O terraplanismo que permeia a tentativa, pela extrema direita bolsonarista, de transformar os terroristas dos atos de 8 de janeiro em vítimas, revela o desespero que tomou conta da oposição diante da prisão que se avizinha para pelo menos 100 golpistas que participaram dos atentados. A armação dos bolsonaristas ocorre após a saída de Gonçalves Dias do comando do Gabinete de Segurança Institucional, na quarta-feira (19). Dias apareceu em imagens vazadas pela imprensa, cercado de bolsonaristas dentro do Palácio do Planalto, no dia da tentativa de golpe.
“Agentes filmados colaborando com invasores do Planalto eram do governo Bolsonaro, do GSI do general Heleno, que ainda não haviam sido substituídos”, lembrou a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, logo após o vazamento das imagens. “O general Gonçalves Dias sai, mas as investigações continuam. Não adianta vir com armação: invasores, terroristas e golpistas eram todos da turma de Bolsonaro. Vão pagar por seus crimes”, avisou Gleisi.
A base do governo no Congresso anunciou, inclusive, que, se for necessário, apoiará a instalação de uma CPI para investigar os atos terroristas de janeiro, sem prejuízo da agenda de reformas na Câmara e no Senado, como a aprovação do arcabouço fiscal e a reforma tributária.
“Se o Congresso quiser instalar a CPMI, estamos prontos para ajudar, inclusive para investigar“, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, em declaração à imprensa. “O vídeo que foi divulgado hoje não encobre nada daquilo que já está na consciência democrática do Brasil, que são os atos patrocinados por eles”, explicou Guimarães. “Em função disso, nós queremos uma apuração ampla, geral e irrestrita, doa a quem doer. Ninguém brinca com a democracia”, advertiu o líder.
“Não vejo qualquer motivo para o governo temer a abertura de uma eventual CPI ou CPMI para apurar os crimes cometidos durante os atos antidemocráticos do 8 de janeiro”, concordou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), ao falar a imprensa. “A [comissão] vai investigar os financiadores, aqueles que idealizaram a barbárie”, apontou.
Investigação célere
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, reforçou a importância do trabalho célere da Polícia Federal e do Judiciário na investigação sobre os atos terroristas. O Supremo Tribunal Federal (STF) inclusive já formou maioria para tornar réus os cem golpistas que participaram dos atos. A votação deve terminar na segunda-feira (24). À imprensa, na manhã desta quinta-feira (20), ele falou sobre o vazamento das imagens de servidores no Palácio do Planalto.
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“Tentam criar uma teoria absurda da conspiração, um verdadeiro terraplanismo”, afirmou Padilha, referindo-se às manobras da oposição.”A teoria que tentam construir é de que as vítimas do atentado terrorista – o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, a democracia e o resultado eleitoral – têm responsabilidade sobre a atuação dos terroristas no dia 8 de janeiro”, denunciou o ministro.
“O vazamento das imagens cria uma nova situação política”, disse Padilha, explicando que, caso haja a leitura para a instalação de uma CPI para investigar a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro, o governo apoiará a abertura da comissão. “Enfrentaremos esse debate [iniciado] por aqueles que tentam passar pano para os atentados”, assegurou o ministro.
Lula alertou para conivência de autoridades
No dia 12 de janeiro, ainda no calor dos recém-atentados terroristas, o presidente Lula já havia levantado a suspeita da participação conivente, tanto de integrantes da Polícia Militar, quanto das Forças Armadas no abominável episódio.
“Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse porque não tem porta quebrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui. Nós vamos com muita calma investigar e ver o que aconteceu de verdade”, afirmou Lula, em janeiro. Ele pretendia assistir a todas as imagens do circuito interno do Palácio.
“A verdade é que o Palácio estava repleto de bolsonaristas, de militares, e nós queremos ver se a gente consegue corrigir para que a gente possa colocar funcionário de carreira, de preferência funcionários civis, ou que estavam aqui ou que foram afastados, para que isso aqui se transforme em um gabinete civil”, defendeu Lula, na ocasião.
Agência PT