Publicado em 06/12/2024- Na noite desta quinta-feira (5), foi aberto oficialmente em Brasília o seminário nacional “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”. O evento, organizado pelo Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT) em parceria com a Fundação Perseu Abramo (FPA), tem como objetivo refletir sobre os desafios do Brasil atual e traçar estratégias para fortalecer o partido diante de um cenário político complexo. Prefeitos, vereadores, parlamentares, dirigentes e militantes marcam presença em debates que se estenderão até esta sexta-feira (6).
Também participaram da mesa de abertura do seminário, o presidente da FPA, Paulo Okamotto, os deputados federais José Guimarães (PT/CE) e Odair Cunha (PT/MG), a vereadora Luna Zarattini (PT/SP), o senador Beto Faro (PT/PA) e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, encerrou o evento, destacando as diretrizes para os próximos passos do partido. Ela iniciou sua fala com um agradecimento emocionado à militância do partido, apontando-a como o pilar das conquistas eleitorais de 2022.
Confira o discurso na íntegra:
A reflexão mais importante que podemos fazer neste momento é sobre o papel do PT no presente e no futuro do nosso país. É compreender para que serve o partido que fundamos, sob a liderança do presidente Lula, há 45 anos que se completam em fevereiro próximo.
Certamente, o PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam a história e o presente do nosso país.
O PT nasceu para transformá-las: lutando contra a ditadura, que ainda hoje inspira a extrema direita, a exploração dos trabalhadores, que mudou de formas, mas permanece na essência, e a indecente concentração da renda nas mãos dos que nos impõem a cartilha do neoliberalismo.
Para que serve o PT, se não for para representar, dar voz e organizar politicamente a imensa maioria que sofre com essa realidade? Se não for para denunciar as injustiças, elaborar e implantar políticas de desenvolvimento econômico com inclusão social?
Para que serve o PT, se não for para garantir que as crianças e jovens deste país tenham acesso a ensino público de qualidade em tempo integral? Se não for para garantir o fortalecimento do SUS, o acesso universal à saúde, aos medicamentos, ao bem-estar das famílias?
Para que serve o PT, se não for para que todas as famílias deste país tenham direito a habitação digna, com saneamento, segurança, lazer e qualidade de vida? Se não for para revolucionar um transporte público ineficiente, caro e ambientalmente insustentável?
Para que serve o PT se não for para levar o Brasil à liderança das ações ambientais, a combater o desmatamento, prevenir os desastres climáticos, educar para a preservação? E para que serve o PT se não for para garantir o reconhecimento dos direitos das mulheres, dos negros, quilombolas, indígenas, dos deficientes, da população LGBT, de todos os que sofrem preconceito, discriminação e violência neste país? Para que serve o PT se não for para garantir a soberania do Brasil, defender e resgatar o patrimônio nacional que foi roubado ao povo que o construiu, em transações criminosas nos anos recentes de governos neoliberais?
Se for para deixar que os preços dos combustíveis, da energia e dos serviços públicos essenciais sejam definidos com base no lucro de empresas privadas ou privatizadas, para que serviria o PT? Se for para manter a escandalosa injustiça tributária, que faz os trabalhadores pagarem os impostos que não atingem os bancos, os poderosos setores isentos, os muito ricos e seus herdeiros, para que serviria o PT? Se for para sacrificar aposentados, trabalhadores, a saúde, a educação, a própria economia do país em nome da ortodoxia fiscal, como estamos vendo na Argentina, para que serviria o PT? Se for para satisfazer a ganância insaciável do sistema financeiro, sufocando o país com juros estratosféricos e assistindo impassivelmente à especulação com o câmbio, para que serviria o PT?
Companheiras e companheiros, estas são reflexões que devemos fazer todos os dias, para não perder de vista a missão e o próprio sentido da existência do nosso partido. Sabemos que o país mudou muito desde que o PT foi criado e mudou ainda mais desde que chegamos ao governo com Lula pela primeira vez, em 2002.
Os debates que estamos fazendo neste seminário, organizado pela Fundação Perseu Abramo, talvez esteja chegando tarde na visão de algumas pessoas. Deveríamos estar avaliando e atualizando há mais tempo as transformações no mundo do trabalho, nas comunicações, nas demandas sociais e nos eixos da disputa política.
Ocorre que o PT passou os últimos dez anos enfrentando a maior operação de cerco e destruição que já se armou contra um partido político na história deste país. Enquanto a extrema direita se organizava nas redes sociais e o neoliberalismo governava, a partir do golpe contra a presidenta Dilma, nós estávamos cuidando de sobreviver.
Enquanto eles mitificavam o individualismo, demonizavam a política e reduziam o estado ao mínimo, nós estávamos discutindo o lawfare que levou Lula à prisão ilegal e à cassação também ilegal de sua candidatura em 2018. Este era o nosso foco de debate e o centro da nossa luta.
É preciso recordar sempre e valorizar devidamente a resistência inigualável da militância do PT na campanha Lula Livre. Foi ali, nas vigílias, protestos e festivais, nas nossas limitadas mas combativas redes e nos portais da mídia independente, na construção de uma rede de apoios nacional e internacional, na batalha judicial tenaz frente a Moro e à Lava Jato que reunimos energia para fazer de novo Lula Presidente.
Temos sim que atualizar nossas posições sobre as mudanças no Brasil e no mundo, mas sem esquecer jamais a razão de ainda estarmos aqui, um partido vivo, presente na vida nacional e novamente à frente do governo.
Ainda estamos aqui porque o PT serve a um projeto de transformação do país que está cada vez mais em disputa. Estamos aqui porque o Brasil ainda é um país dividido pela desigualdade histórica e, agora, dividido também entre o campo popular e democrático e a violência política da extrema direita, a serviço do aprofundamento das desigualdades.
A eleição do presidente Lula não significa, como pensam alguns, o fim de uma etapa para o PT. Ela é a continuidade de uma trajetória que deve nos conduzir a uma sociedade melhor, mais humana e solidária, com direitos e oportunidades para todos e todas, na construção permanente da transformação rumo à justiça que o sistema capitalista não se mostrou capaz de promover. É para cumprir esta missão que serve o PT.
Este seminário tem o importante papel de iniciar nosso debate sobre a atualização de nossos posicionamentos e organização partidária, que vai se estender durante todo o processo de eleição da nova direção do PT no início de julho do próximo ano. Um processo que deve envolver nossa militância, nossos dirigentes e até mesmo nossos simpatizantes. Que deve resultar na ação programática clara que irá conduzir o partido pelos próximos quatro anos e será fundamental para preparar o processo eleitoral de 2026 para reconduzir Lula novamente à Presidência da República, numa sólida aliança com o campo popular e democrático. É com este espírito que temos de pautar o debate que começa hoje, sem jamais esquecermos o que nos trouxe até aqui!